segunda-feira, 15 de junho de 2020

Alves & C.ª

A traição que não passou de uma grande tolice 


Alves & C.ª é um livro escrito por Eça de Queiroz , que nunca foi publicado em vida, mas apenas anos depois da sua morte. 

Este livro retrata o tema do adultério feminino e terá sido escrito em Bristol, onde o autor viveu na década de 1880, mas o seu manuscrito só foi descoberto em 1924. 

Escolhi este livro porque queria ler uma obra de um grande autor português, mas que não fosse demasiado extensa.

É um livro leve e que se lê bem, embora não tivesse gostado muito da história.

O título do livro – Alves & C.ª – é o nome da empresa de sucesso que tem como sócios os dois protagonistas: Godofredo Conceição Alves, um prestigiado empresário calvo de 37 anos, sério, honesto, e romântico, e Machado, um jovem de 26 anos, bonito, louro, elegante, trabalhador e com jeito para o negócio.

No dia em que comemorava quatro anos de casamento, Godofredo resolve fazer uma surpresa à sua mulher, Ludovina. Compra-lhe uma prenda (uma pulseira), encomenda o jantar e chega mais cedo a casa, mas fica em choque quando apanha mulher a traí-lo, no sofá amarelo da sala, com o seu sócio.

Godofredo já andava desconfiado que Machado andava envolvido com uma mulher, pois volta e meia desaparecia do escritório, mas nunca imaginou que ele estivesse a trair a sua amizade conquistando a sua própria mulher. Esta ainda se justificou ao dizer que era a primeira vez, mas Godofredo descobriu um maço de cartas de amor escritas por ela, o que provava que o romance já durava há algum tempo.

A traição despertou em Godofredo o desejo de vingança: decidiu mandar a mulher para casa do pai e disputar com Machado um duelo de morte para repor a honra.

O sogro, Sr. Neto, conseguiu que Godofredo pagasse uma pensão mensal à mulher, bem como conseguiu, para evitar o falatório, que ele pagasse umas férias de verão na Ericeira.

Godofredo quis vingar a traição, planeando um suicídio em que os dois, ele e o Machado, teriam pistolas, mas apenas uma, tirada à sorte, estaria carregada. Só que este plano de suicídio à sorte, de tão ridículo, não foi aceite pelo Machado, nem pelos amigos de Godofredo – o Carvalho e o Teles Medeiro – nem pelas testemunhas escolhidas pelo Machado, o Nunes Vidal e o Albertinho Cunha. Aliás, o Nunes Vidal convenceu-os de que não havia sequer motivo de sangue, porque o que se tinha passado entre o Machado e a Ludovina fora um simples namoro, tendo ficado, por isso, decidido que não haveria duelo, ficando tudo na mesma.

Com o tempo, a ferida da traição começa a cicatrizar e Godofredo começa a sentir a falta de Ludovina. A casa está desmazelada e suja, porque as duas criadas negligenciaram o seu trabalho, sabendo que o patrão, para conservar o seu silêncio em relação ao que se passou, não as podia despedir.

Godofredo ansiava fazer as pazes com Ludovina, mas não conseguia arranjar um pretexto para que isso acontecesse.  Até que um dia a encontrou na rua e perguntou-lhe como é que, lá em casa, se acendia o candeeiro do escritório. Ela foi e deu-se a reconciliação. Foram, depois, de lua de mel para Sintra e tudo voltou ao normal.

Godofredo também fez, entretanto, as pazes com Machado que, depois de se casar pela segunda vez, se mudou para uma casa próxima da casa dos Alves. As duas famílias foram envelhecendo juntas, mantendo a amizade que as unia.

Para Godofredo, a filosofia da vida resumia-se numa frase que costumava repetir a Machado: “Que coisa prudente é a prudência”.

No final da narrativa, Godofredo recorda a Machado que estiveram, em novos, para se bater por causa de uma tolice. 

Machado salientou: “Por causa de uma grande tolice, Alves amigo!”.

Não gostei muito da história contada no livro, não só porque não faz muito o meu género (não sou apreciador do tema do adultério), como também porque me faz confusão como é que um marido traído poderia sequer pôr a hipótese de morrer quando foi ele a vítima da traição. Perante uma situação dessas, se alguém tivesse de morrer não seria com certeza ele!

Este é livro faz uma crítica à sociedade portuguesa da época, que era demasiado tacanha e passiva, pois, perante o adultério, o traidor continua na empresa, o marido traído acaba por se acomodar e esquecer o sucedido, e a mulher adúltera acaba feliz. Também é uma crítica aos homens que se aproveitam das mulheres dos outros para se divertirem.

O livro tem partes cómicas, como aquela em que Godofredo, quando apanha a mulher a traí-lo com Machado, tropeça num tapete e cai, dando tempo aos traidores de fugirem.

Este livro, apesar de escrito há mais de cem anos, permanece atual na medida em que apresenta Portugal como um país de “brandos costumes”.


Ficha técnica:

Alves & Companhia, de Eça de Queirós, 11X17, 112 pág., 2019


Classificação: 3/5 💛💛💛


Francisco Pereira, 10.º-A, n.º 9




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