O aclamado romance Robinson Crusoé, que deu fama a Daniel Defoe, escritor e jornalista
britânico do século XVII, é intemporal, influente e tem um tom universal, não fosse ele um
clássico. Foi publicado em 1719 com um longo título original que, permitam-me que vos diga,
dá um grande spoiler. No entanto, tal não me tirou a vontade de o ler e ainda bem, uma vez
que, desde o início, o livro é uma verdadeira lufada de ar fresco. Mas como pode um livro de
1719 suscitar tal reação? Pode porque Crusoé é um jovem livre, aventureiro e carismático,
envolvendo o leitor nas suas aventuras e filosofias de vida.
Esta autobiografia ficcional da personagem principal conta-nos a história de um jovem inglês
de 19 anos que, convicto de que seria ele a determinar o seu futuro, parte numa viagem com
destino ao Norte de África, para grande desgosto de seus pais. Esta iria concretizar os seus
desejos aventureiros e alimentar a sua paixão pelo mar. No entanto, muita coisa acontece e
Robinson acaba por naufragar numa remota ilha tropical e aparentemente deserta, no meio
do oceano Atlântico. Aí tem de sobreviver a tempestades, piratas, canibais e, claro, às
contrariedades de uma vida solitária.
Criticar um livro tão famoso e importante não é fácil, mas, tal como Crusoé, decidi lançar-me
à aventura. A meu ver, o livro foi claramente escrito para jovens e fê-lo com grande talento,
uma vez que o autor entrou completamente naquela que é a mente de um jovem, transmitindo
muito o sentido de liberdade, as desilusões e as esperanças que todos têm. Uma das minhas
partes favoritas da obra é a sua forte mensagem de importância da amizade, conexão e
outros tantos valores intemporais, uma vez que Robinson dependeu da “comunhão de
esforços” e “da solidariedade humana” dos seus amigos para sair da ilha. O texto é ainda
enriquecido por fortes críticas aos nobres da época (canibais de almas) e à escravidão, que
o autor considera repugnante. Esta presença dos valores e das críticas está de certeza
interligada com o século da obra (“Século das Luzes”), altura de novas ideias filosóficas e
revoluções.
No entanto, nem esta grande obra consegue escapar a algumas críticas negativas. O autor,
apesar de criar uma personagem que aparentemente é contra a escravatura, não se
consegue libertar das influências do colonialismo. Robinson trata o seu amigo negro de uma
forma inferior, uma vez que sente a necessidade de o instruir e fica admirado por este lhe ter
ensinado algo. Parece-me ainda que Robinson tem demasiadas e complexas habilidades de
sobrevivência, o que torna a personagem um pouco irrealista.
No final, Robinson Crusoé desperta-nos o bichinho da aventura e da imaginação, faz-nos
refletir sobre as duas facetas da Humanidade e dá-nos uma imensidão de aptidões de
sobrevivência. Quem quiser está mais que preparado para se perder numa ilha deserta!
Ficha técnica: Robinson Crusoé, de Daniel Defoe
Clara Pereira, 10ºA
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